LUTA PELO FUTURO
O herói sobe o Morro dos Campeões
Não é só uma academia. É o Morro dos Campeões. No alto do Santo Amaro, Erik de Jesus, de 9 anos, entra no tatame. Está convicto de que se tornará o melhor lutador do mundo e poderá comprar uma casa para sua mãe. O sonho do menino está materializado ao seu lado: Eduardo “Dudu” Dantas, bicampeão mundial de MMA na categoria peso falo do torneio Bellator MMA, e ex-aluno da escola de luta. (Veja aqui.)
O projeto teve início em 2000, com o atleta de MMA Marlon Sandro oferecendo aulas gratuitamente para seus amigos e moradores da comunidade do Santo Amaro. Hoje, conta com cerca de 90 crianças e 40 adultos. Todos eles da comunidade do Santo Amaro e da comunidade Pedro Américo.
Com vagas limitadas devido ao espaço, quem comanda os treinos é o jovem atleta José Carlos “Polenguinho” que também começou no projeto, em 2003. Polenguinho como é chamado, já foi campeão mundial de Jiu-Jitsu, múltiplas vezes campeão brasileiro.
Criado na comunidade, Dudu começou a treinar jiu-jítsu aos 13 anos no projeto batizado para inspirar. Hoje, o lutador é símbolo da filosofia do Morro dos Campeões. Em suas lutas, a comunidade arma o telão no Campo, onde acontecem as peladas da garotada, para verem as lutas do ídolo. E a torcida é apaixonada. Dedé Pederneiras, seu atual técnico, foi quem o incentivou a entrar na modalidade de MMA, na qual estreou quatro anos mais tarde. No novo espaço onde treina, no Flamengo, ele também aprendeu a lutar boxe.
“A luta deu direção à minha vida. Você aprende que o caminho é longo e é preciso ter garra” ressalta Dudu Dantas.
– O jiu-jítusu deu direção à minha vida. Eu era hiperativo. Você ganha controle do corpo e das atitudes. Eu me apaixonei pelo Jiu-jítsu e comecei a querer treinar mais e mais. O projeto só tinha aulas três vezes por semana, mas eu queria fazer todo dia, por isso procurei a academia do Dedé Pederneiras. Aí comecei a competir, fui campeão estadual, campeão brasileiro, ganhei a Copa Rio, participei de diversos campeonatos pelo Brasil. O jovem que vê que os outros têm tudo e ele não tem condições aprende, pelo professor, que o caminho é conquistar aos poucos. Com garra – diz, batendo o pulso nas mãos esculpidas pela luta.
Acompanhado em seus gestos pelas crianças, ele conta sua história de superação. Aos 3 anos, perdeu o pai, vítima de hepatite. A mãe trabalhou como cuidadora de idosos para criar os dois filhos. Hote, tem um campeão e uma empresária. A irmã de Dudu se formou em Marketing e abriu uma empresa. Agora, ele quer ampliar os horizontes dos meninos da comunidade através do esporte.
– Somos o que acreditamos ser. Não existe nada melhor do que ter um sonho – conta Dudu, consciente da sua resposabilidade: – Fáco questão de vir aqui. É o espelho. O jovem tem que ter exemplos bons. Os meninos têm talento. Quero que acreditem que podem chegar lá.
– Sempre, depois da luta, faço questão de ir até lá conversar com as crianças e mostar o cinturão. Acredito que aqueles que são de comunidade, como eu era, têm que ter um bom espelho por perto. Eu mostro que eles podem seguir o esporte também, que é uma questão de escolha e determinação. No meu caso, foi uma brincadeira que virou profissão e da qual eu gosto muito – declara Dudu.
Dedé Pederneiras se tornou um grande apoiador deste projeto social, além de diversos lutadores que estão sempre presentes.
Fundamento
Oferecer ao jovem de comunidade carente, sem condições financeiras a filosofia do esporte, no acaso a luta. (Jiu-Jitsu). Que é desenvolver corpo e mente. Que torna o indivíduo mais seguro e auto confiante. Fazendo também que a energia do aluno seja sempre canalizada para o bem, colocando o mesmo em um ambiente saudável, onde existe fortes laços de amizades e companheirismo logo o tirando da vida improdutiva e das drogas. Problemas que atinge grande parte da juventude nos dias de hoje.
Princípio
Acredita-se no princípio da vontade. A força de vontade muda tudo, não importa aonde estamos e sim aonde iremos chegar. A força de vontade deve ser mais forte do que a habilidade.
Acredita-se na potencialidade de desenvolvimento das pessoas de baixa renda, principalmente das crianças, adolescentes e jovens, a partir do oferecimento de oportunidades de informação, formação, capacitação e participação na sociedade através do esporte. Assim como eu consegui, todos podem conseguir. Não apenas formando atletas e campeões no esporte, mas sim cidadão do bem.
Acredita-se que todas as pessoas podem ser sujeitos da sua própria transformação social, desde que lhe sejam dadas condições para buscar e alcançar esta transformação.
Texto: matérias adaptadas do jornal Extra, de 24/11/2016 e O Globo | Zona Sul de 01/12/2016.
Fotos: Marcelo Theobald.


